Qual a relação entre saúde mental, longevidade e bem-estar?

Cerca de um terço das pessoas no mundo todo sofria de algum transtorno mental em 2019, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS). O que tem um impacto enorme, pois os problemas de saúde mental podem afetar tanto o bem-estar das pessoas quanto a longevidade delas, sendo que a principal causa de incapacidade no mundo são os transtornos mentais. Então, continue a leitura para saber:

O que é saúde mental?

A saúde mental é um componente integral da saúde e do bem-estar, que sustenta as nossas habilidades individuais e coletivas para tomar decisões, construir relacionamentos e moldar o mundo em que vivemos, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS). Ela diz respeito ao bem-estar emocional, psicológico e social em todas as fases da nossa vida e nos permite:

  • Aprender bem;
  • Trabalhar bem;
  • Realizar nossas habilidades;
  • Lidar com o estresse do dia a dia;
  • Contribuir para a comunidade.

Qual o impacto dos problemas de saúde mental?

É importante saber que qualquer problema de saúde mental pode afetar como pensamos, sentimos e agimos. Ou seja, tem a possibilidade de afetar todos os aspectos da nossa vida. Tendo isso em vista e as estatísticas da OMS sobre problemas de saúde mental, podemos ter uma ideia do enorme impacto deles no mundo todo:

  • Total de pessoas afetadas – quase 13% da população mundial convivia com algum transtorno mental em 2019;
  • Total de adolescentes afetados – 14% dos adolescentes do mundo estavam incluídos no total de pessoas com algum transtorno mental em 2019;
  • Incapacidade – os transtornos mentais são a principal causa de incapacidade, sendo responsáveis por um em cada seis anos vividos com incapacidade;
  • Tempo de vida – pessoas com condições graves de saúde mental morrem, em média, 10 a 20 anos mais cedo do que a população em geral, principalmente devido a doenças físicas evitáveis.

Também segundo a OMS, as populações dos países com baixa renda são as menos propensas a ter acesso a serviços para tratar problemas de saúde mental. Um exemplo disso é a disponibilidade de tratamento para os casos de psicose e depressão.

Psicose – no geral, 71% das pessoas com psicose em todo o mundo não acessam serviços de saúde mental. Mas o percentual das que recebem tratamento varia muito conforme a renda do país:

  • 70% das pessoas com psicose são tratadas em países de alta renda;
  • 12% das pessoas com psicose recebem cuidados em países de baixa renda.

Depressão – a deficiência de tratamento para esse problema de saúde mental também é alta no mundo, inclusive nos países mais desenvolvidos economicamente. De qualquer forma, a diferença entre os percentuais de quem recebe tratamento continua expressiva conforme a renda do país:

  • 33,3%, aproximadamente, das pessoas com depressão recebem cuidados formais de saúde mental em países de alta renda;
  • 23% das pessoas com depressão recebem tratamento minimamente adequado em países de baixa renda.

Quais são os sinais de alerta em relação à saúde mental?

Existem vários sinais e sintomas que podem indicar algum problema relacionado à saúde mental, tais como:

  • Afastar-se das pessoas e das atividades habituais;
  • Fumar, beber ou usar drogas mais do que o normal;
  • Ter mudanças severas de humor que causem problemas nos relacionamentos;
  • Ter pouca energia ou nenhuma;
  • Ser incapaz de realizar tarefas diárias, como estudar, trabalhar, cuidar da casa e da família;
  • Dormir em excesso ou pouco;
  • Comer em excesso ou pouco;
  • Sentir-se entorpecido ou como se nada importasse;
  • Sentir-se impotente ou sem esperança;
  • Sentir-se confuso, esquecido, nervoso, zangado, chateado, preocupado ou assustado de forma incomum;
  • Ter pensamentos e memórias persistentes que não consegue tirar da cabeça;
  • Pensar em prejudicar a si mesmo ou aos outros;
  • Acreditar em coisas que não são verdadeiras;
  • Ouvir vozes que não existem;
  • Ter dores inexplicáveis.

Apresentar um ou mais dos sinais e sintomas listados não quer dizer, necessariamente, que a pessoa está desenvolvendo ou já está com algum problema de saúde mental instalado. Mesmo alucinações e delírios podem ter outras causas, como uso de medicamentos, álcool e drogas, e até um problema físico.

Portanto, é recomendável procurar um médico para que seja feito o diagnóstico correto e, se necessário, indicado o tratamento mais adequado para o caso. Além disso, é importante nunca tomar medicamentos por conta própria ou porque foi indicado por um conhecido com um problema supostamente parecido.

Quais fatores podem colocar em risco a saúde mental?

Existem muitos fatores individuais, sociais e estruturais que, combinados ou isolados, podem prejudicar a saúde mental.

Fatores individuais – eles podem estar relacionados com nossas habilidades emocionais, com a nossa genética, com condições médicas ocultas e até com alterações em nossa química cerebral. O que pode acontecer, por exemplo, pelo uso de substâncias psicoativas, ou seja, de substâncias que têm o potencial de modificar o funcionamento do cérebro e provocar alterações no humor, na percepção, no comportamento e em estados da consciência.

Fatores sociais e estruturais – aspectos econômicos e geopolíticos, a exemplo de pobreza e guerras, e aspectos ambientais desfavoráveis, tais como: pertencer a um grupo perseguido ou discriminado, violência, desigualdade, trauma e abuso, além de perda, doença ou separação dos pais, entre outros.

Qualquer pessoa pode ter algum um ou mais problemas de saúde mental simultaneamente, independentemente de sexo, idade, poder aquisitivo e etnia. Entretanto, alguns grupos têm um risco maior, tais como:

  • Mulheres – são três vezes mais propensas do que os homens a experimentar problemas comuns de saúde mental;
  • Crianças – a ocorrência de determinados problemas durante os períodos sensíveis do desenvolvimento é especialmente prejudicial, em particular na primeira infância. O bullying, por exemplo, é um dos principais fatores de risco para problemas de saúde mental nessa fase da vida.
  • Pessoas mais pobres – também possuem um risco mais alto de desenvolver problemas de saúde mental.

Porém, estar exposto ou ter sido exposto a um ou mais fatores de risco não significa que a pessoa vai desenvolver, necessariamente, uma condição de saúde mental – a maioria não desenvolve. Por outro lado, muitas pessoas que desenvolvem não têm um fator de risco conhecido.

Como a saúde mental afeta o bem-estar?

Segundo a Organização Mundial da Saúde, o bem-estar compreende uma dimensão subjetiva e uma objetiva.

Dimensão objetiva do bem-estar – diz respeito às experiências de vida e à comparação delas com as normas e valores sociais da pessoa. Essas experiências se dão em todas as áreas, como saúde, educação, trabalho, relações sociais, segurança, habitação e equilíbrio entre vida profissional e pessoal etc.

Dimensão subjetiva do bem-estar – abrange a sensação geral de bem-estar de uma pessoa, o funcionamento psicológico e os estados afetivos.

A saúde é uma das principais coisas que as pessoas dizem ser importante para o bem-estar. Além disso, ter uma boa saúde também está correlacionada a uma maior satisfação com a vida. Mas a relação entre saúde e bem-estar não é unilateral, ou seja, não é só a saúde que é capaz de influenciar o bem-estar. O próprio bem-estar pode influenciar tanto a saúde física quanto a saúde mental.

Mas, mesmo que um possa influenciar o outro, a saúde mental e o bem-estar são dimensões independentes. Ou seja, é possível que uma pessoa seja portadora de algum transtorno mental e, mesmo assim, tenha um alto nível de bem-estar. Da mesma forma que alguém pode ter baixos níveis de bem-estar mesmo sem ter qualquer transtorno mental.

Como a saúde mental pode afetar a longevidade?

As doenças mentais que não são tratadas podem ter um impacto de longo prazo na saúde física e reduzir a expectativa de vida, ou seja, a longevidade das pessoas tanto quanto diabetes, tabagismo e falta de exercício físico. Dados da OMS mostram que portadores de doenças mentais graves têm uma expectativa de vida de 10 a 25 anos menor. Essa redução equivale ou é pior do que a causada por tabagismo pesado.

Além disso, o excesso de hormônios relacionados ao estresse, como cortisol e adrenalina, pode acelerar o envelhecimento e diminuir a longevidade. A estimulação dos processos metabólicos por esses hormônios produz mais radicais livres. Então, o DNA sofre estresse oxidativo dos radicais livres, o que encurta os telômeros (estruturas cuja função principal é impedir o desgaste do material genético e manter a estabilidade da estrutura do cromossoma) e acelera o envelhecimento celular.

Conteúdos relacionados

Referências